Agravada pelos efeitos das crises globais, a transição energética global está fora dos trilhos. A constatação foi apresentada pelo diretor-geral da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena), Francesco La Camera, nesta quarta-feira, 28 de março, durante o Berlin Energy Transition Dialogue (BETD). Segundo ele, o momento urge para medidas ousadas e transformadoras, com investimentos de pelo menos US$ 35 trilhões pelos próximos oito anos, além de políticas abrangentes para incremento das energias renováveis em diversos setores.

“Uma transformação profunda e sistêmica do sistema energético global deve ocorrer em menos de 30 anos, ressaltando a necessidade de uma nova abordagem para acelerar a transição energética”, disse o executivo.

A prévia do World Energy Transitions Outlook 2023 mostra que a escala e a extensão da mudança ficam muito aquém das metas globais de limitação do aumento da temperatura global em 1,5°C. Houve progresso, principalmente no setor de energia, onde as energias renováveis representam 40% da geração de energia instalada globalmente, contribuindo para um número sem precedentes de 83% das adições de energia em 2022.

Para cumprir a meta, os níveis de implantação devem crescer de cerca de 3.000 GW atuais para mais de 10.000 GW em 2030, uma média de 1.000 GW anualmente. A implantação também é limitada a certas partes do mundo. China, União Europeia e Estados Unidos foram responsáveis por dois terços de todas as adições no ano passado, deixando as nações em desenvolvimento ainda mais para trás.

A prévia da Irena descreve três pilares prioritários da transição energética; a infraestrutura física, os facilitadores políticos e regulatórios e a força de trabalho bem qualificada, exigindo investimentos significativos e novas formas de cooperação nas quais todos os atores possam se envolver na transição e desempenhar um papel ideal.

Embora o investimento global em novas tecnologias tenha atingido um novo recorde de US$ 1,3 trilhão no ano passado, os aportes anuais devem mais do que quadruplicar para mais de US$ 5 trilhões para permanecer no caminho de 1,5°C. Até 2030, os recursos acumulados devem chegar a US$ 44 trilhões, com tecnologias de transição representando 80% do total, ou US$ 35 trilhões, priorizando eficiência, eletrificação, expansão da rede e flexibilidade.

Quaisquer novas decisões de investimento devem ser cuidadosamente avaliadas para conduzir simultaneamente a transição e reduzir o risco de ativos ociosos, analisa a publicação, visto que cerca de 41% do investimento planejado até 2050 continua direcionado aos combustíveis fósseis.

Aproximadamente US$ 1 trilhão do orçamento anual planejado em combustíveis fósseis até 2030 deve ser redirecionado para tecnologias de transição e infraestrutura para manter a meta de 1,5°C ao alcance.
Além disso, a intervenção do setor público é apontada como necessária para canalizar os investimentos para os países de forma mais equitativa.

No ano passado, 85% do aporte global em energia renovável beneficiou menos de 50% da população mundial. A África representou apenas um por cento da capacidade adicional em 2022, com o Panorama Global de Financiamento de Energia Renovável de 2023 da agência internacional confirmando que as regiões que abrigam cerca de 120 mercados em desenvolvimento e emergentes continuam a receber comparativamente poucos recursos.

A próxima publicação desse ano contribuirá para a conclusão do primeiro Global Stocktake na COP28 nos Emirados Árabes Unidos e proporá maneiras eficazes de acelerar o progresso nos próximos cinco anos até 2030. Ademais, foi informado que o relatório completo da WETO será divulgado ainda em 2023.